O primeiro cinema
O nosso primeiro cinema, o Trianon que era mudo, construído na década de vinte, com suas cadeiras de palhinha e seu barulhento projetor funcionava onde hoje é a casa de Zezé Raimundo. Os filmes eram, apenas, "musicados", eventualmente, quando havia alguém que manejasse o piano ali existente. Houve um período, curto, aliás, em que a sonorização ficou a cargo da Srta. Iracema Valença Pio, uma jovem procedente da zona canavieira do Estado, em férias e hospedada na casa do Sr. Elias Valença Cintra, seu parente. Enquanto perdurou a estádia dessa jovem talentosa em nossa urbe, a população são-bentense acorreu em massa às dependências do nosso incipiente cinema, atraída pelas belas valsas executadas ao piano, que enriqueciam sobremaneira os "dramas", as estórias de amor ali exibidos.
Pouco depois do regresso da eventual pianista à sua terra, o cinema fechou, somente reabrindo sonorizado. O piano foi aposentado e guardado em casa do "operador", do técnico, João Virães. Babá, filho mais velho do nosso saudoso "Seu João", com a chegada de um piano em sua residência, teria a oportunidade de demonstrar o seu incrível talento, executando as mais variadas peças musicais, sem, evidentemente, a ajuda de professor, coisa que não existia em nossa terra.
Quanto à Srta. Iracema, numa visita à cidade de Pesqueira, enamorou-se do jovem André do Rego Barros, com quem casaria depois de rápido noivado, constituindo uma bela família.
Um lembrete: durante a quarentena do famoso piano do Trianon, por absoluta falta de pianista, a sonorização ficaria sob a responsabilidade de Malaquias, clarinetista da nossa incrível e sesquicentenária Santa Cecília. O curioso é que, nem sempre as musicas executadas condiziam com as cenas mostradas na tela.
Não era raro ouvir-se uma tristíssima melodia, acompanhando
uma cena hilariante, de Carlitos, por exemplo.
O cinema era mudo, o povo não. A balbúrdia era grande nas noites de filmes. Os assíduos frequentadores do velho cinema viviam momentos inesquecíveis, quando da exibição de filmes estrelados por artistas famosos. Qual o oitentão são-bentense que ainda não lembra Ramon Novarro e Greta Garbo? Duvidam?, perguntem a Bertinho Porto?
Por Leone Valença

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